Posso entender hoje que a obra de Pessoa me instigou justamente pela minha ânsia de auto-conhecimento e essa sensação de inquietude diante de uma realidade tão complexa que chega a ser surreal, " Tabacaria " é para mim um poema tão belo e inteligente que o leio e parece que minha alma foi exposta diante daquela situação"...come chocolates, pequena;come chocolates!Olha que não há metafísica no mundo senão chocolates.Olha que todas as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria..."
Tem um trecho ainda do " Tabacaria" que acredito que ali Fernando Pessoa se superou : "...Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,Nobre ao menos no gesto largo com que atiro A roupa suja que sou, sem rol,pra o decurso das coisas, E fico em casa sem camisa..."
Um dia passando por uma livraria comprei um pocket book da editora Martin Claret intitulado Fernando Pessoa -Mensagem, uma coletânea de poemas de Fernando Pessoa e seus heteronômios, virou meu livro de cabeceira por uns meses, lia e relia os poemas e ficava extasiado com tamanha perspicácia desse artista.
Fernando Pessoa me inspirou, me inspira e vai continuar me inspirando, em São Paulo vi sua exposição no high tech Museu Da Língua Portuguesa e mês passado citei novamente o poema " Tabacaria" num papo com uma amiga e não resisti, dias depois estava eu na livraria procurando o poeta novamente, comprei esse livro: " Fernando Pessoa- Quando fui outro", livro do qual estão reunidos em coletânea tambem seus melhores poemas e de seus heteronômios, gostei mais desse, num esquema mesmo de " The Best Of " ou " FP - The Singles" a primeira página abre com a pérola: "Devo tomar qualquer coisa ou suicidar me? Não: vou existir.Arre! Vou existir.E-xis-tir...E--xis--tir..."( do poema " Bicarbonato de Soda").
Para abrir o livro " Tabacaria" e depois coisas belas como o poemas " Súbita Mão De Algum Fantasma Oculto";" Há Metafísica Bastante Em Não Pensar Em Nada" e o sutil " Liberdade" com meus versos preferidos tambem: "...Grande é a poesia,a bondade e as danças...Mas o melhor do mundo são as crianças,Flores,música, o luar, e o sol, que peca Só quando,em vez de criar, seca. O mais do que isto é Jesus Cristo, Que não sabia nada de finanças Nem consta que tivesse biblioteca..."
Fernando Pessoa dessa safra clássica é uma excessão em meu gosto particular já que sou fã da poesia marginal e da poesia underground, mas não posso negar o que suas palavras transcenderam, desculpe o lugar comum dessa palavra mas é isso que sinto quando leio Pessoa.
Dennis Lurm
Nenhum comentário:
Postar um comentário