domingo, 13 de março de 2016

Viva ! A bruxa está a solta novamente na sétima arte !

O burburinho que essa figura causa no cinema rende ótimas bilheterias, vide o boom dos filmes found footage que pegaram carona no insosso " A Bruxa de Blair " de 1999, o novo " A Bruxa" de Robert Eggers é um filme de Arte, com A maiusculo, fotografia belíssima, um clima inóspito e uma família camponesa da Inglaterra de 1630, Hollywood tem sido imparcial nos últimos tempos quando coloca o Diabo na temática de seus filmes e mostra o clássico ciência versus religião, " A Bruxa" causa essa sensação em boa parte do filme, não a ciência como antagonista mas a própria história e os costumes do século XVII, versos biblicos inflamados por uma família devota, as vezes repetidos pelas crianças num tom visceral e até poético...belas passagens, quando o mal surge em " A Bruxa" além do realismo vemos a beleza, a beleza sombria da fotografia, a beleza macabra escondida tanto nas matizes quando na miséria e nos extremos que dominam o homem em situações limite, não é um filme para espectadores pipoca ávidos por sustos repentinos, " A Bruxa" conseguiu mais que isso...sair do nicho cult e pousar sua vassoura nas Redes Cinemark, o fim? ele me surpreendeu e Hollywood terminou a película sem medo de soar fantástica, terminou soberba, luxuriante como o mal faria!
                                                         Dennis Lurm

domingo, 28 de abril de 2013

Enfim The Cure


 Parecia uma utopia ver o The Cure no Brasil novamente, afinal perdi suas apresentações em terras tupiniquins porque era muito novo na primeira vez e na segunda eu estava mais head banger,mas no final dos anos 90 resgatei em mim o gosto musical intimista e desde então sonhava em ver ao vivo Robert Smith & Cia , quase um porta voz dos meus sentimentos, amo o disco " Desintegration " e cada vez que assistia o dvd Trilogy ficava impressionado com a perfeição e a técnica da banda ao vivo e a imersão sentimental deles em todas as faixas, o disco é de uma beleza sublime.
Pois então o The Cure ficava naquele amor platônico, do qual diante desses dvds ao vivo e lives do You Tube eu me imaginava dentro desses  shows e partilhando o mesmo espaço dessa magnitude, sim o Cure é grandioso, embora suas faixas sejam introspectivas e às vezes despretensiosas eles possuem uma grandeza, torna se épico e às vezes denso.
Enfim estamos em 2013, no dia seguinte à liberação dos ingressos lá estava eu acordando de madrugada em busca do meu para finalmente realizar esse sonho. Passados alguns transtornos sobre a mudança do local do show que antes seria no estadio do Morumbi e depois transferido para a Are
na Anhembi com uma possivel troca de ingressos já comprados, tudo se esclareceu e imaginei que essa platéia agora menor ( 30 mil pessoas)seria realmente a platéia que Robert queria ver, a platéia que dançou " Inbetween Days" na matinê, a platéia taciturna que se movia no gelo seco ao som de "Lovesong" ; a platéia que tinha um pôster de " Boys Dont Cry" com a clássica silhueta de Robert em preto com sua guitarra e seus cabelos desgrenhados.
O show teve a pontualidade britânica, eles entraram com " Open" Robert estava lá para nos dar aquilo que queríamos: música, entre um som e outro um " Obrigado" rouco com um forte sotaque, o Cure é assim e é por isso que os amamos, no meio da emoção meu amigo gritou no meu ouvido: " e pensar que ele tocou com Siouxsie" eu ouvi e concordei mas no fundo pensei: Na verdade Siouxsie tocou com Robert, no

sentido de que sempre achei o The Cure maior que todas essas bandas, quase um clichê se eu emparelhar o pós punk e o dark dos anos 80, mas minha formação musical é essa!
A imersão de Robert nas faixas todas tocadas com um esmero e uma perfeição digna de astros comovia a todos, olhei tantas vezes sua figura fantasmagórica no telão e vieram imagens de alguns dvds, dos quais com os olhos nas órbitas Robert " procurava " essas imagens mentais, procurava materializar de alguma forma aquilo que cantava.
Veio uma sequencia arrebatadora: "Lovesong"; "Lullaby";" Fascination Street" em " Lullaby" Robert dançou tirando risos e aplausos da galera, sua imagem era um misto de mistério com candura, só ele consegue ser assim, até que veio "A Forest" foi nessa faixa que compreendi porque o The Cure é épico, uma longa introdução cureana e  luzes esverdeadas nos transportavam para essa floresta assustadora, poderia ser a floresta da Bruxa de Blair, ou a floresta de Lars Von Trier, mas essa floresta me deixou marejado, no final palmas no ritmo do baixo homenageavam a música, alguem da platéia grita: " Obra Prima!" senti um gelar na alma e um extase instantaneo! Obrigado Robert! até mesmo porque pra quem ainda não sabe o Cure é o Robert! Os dois vídeos abaixo foram gravados por mim, desculpem me pelas imagens, mas já que esse relato é muito pessoal, queria minha visão do palco, minha sensação e minhas lentes !!

 


terça-feira, 1 de maio de 2012

Vaidade Vil



Quando fitei a caixinha de Rivotril anteontem
me despedi da substância com a quase certeza
de seu armazenamento
Poderia crer que abriria um dia distante
pois anteontem tudo era tão distante 
mas quase a abro neste momento

Divaguei na poltrona diante dos olhos dos gatos 
e mastigava os amidos em ato mecânico depois do telefonema
Foi ficando claro o tamanho da vaidade
coleciono a como um mecenas
e tudo seria tão belo, tão lindo
se esse Quixote não fosse um estratagema

Talvez ele não seja
mas foi entregue à vil vaidade
seu amor depende da taquicardia
tão quanto da reciprocidade
tão óbvia quanto a soberania
tão melancólica quanto essa inverdade.

                                         Dennis Lurm

domingo, 22 de abril de 2012

Wumpscut - your last salute (air forge remix)

Pin up bidimensional by Dennis Lurm


A idéia da realidade que se forma através de uma ilusão sempre foi minha idéia fixa, portanto hoje nesse ócio dominical e enfadonho me armei de papelão, algumas revistas e uma luminária para criar esse pequeno vídeo de bidimensionalidade. 
A música de fundo se chama "Whispered in Your Ear"  do Faith And The Muse!

sexta-feira, 23 de março de 2012

" O HOMEM QUE RESOLVEU CONTAR APENAS MENTIRAS"

Naquela manhã, acordou disposto a só contar mentiras. A não dizer uma única verdade. A ninguém.Nem à própria mulher; E assim quando afirmou: "vou para o trabalho",empregou a primeira mentira.Não ia.Tinha resolvido faltar,esquecer o escritório, a mesa, os papéis. Parar, ficar na rua. E quando disse bom -dia para o zelador do prédio, também mentia,porque odiava o zelador,um oportunista, que não conservava o prédio,fazia fofocas entre empregadas,pedia gorjetas,ganhava porcentagem na compra de materiais de limpeza.E quando disse o endereço ao motorista de táxi,também mentia, não pretendia ir para aquele lugar. Mas o chofer exigira o destino porque as pessoas vivem exigindo coisas.E nem sempre temos vontade ou possibilidade de satisfazer. E as exigências crescem e se tornam parte de nossa vida diária.
Nos acostumamos com elas, nos acomodamos, sem perceber que cada concessão é um pedaço da gente mesmo, envenenado, que a  gente engole.E quando o homem entrou no bar e pediu café, mentia,porque não queria café.Estava apenas fazendo um teste, enquanto observava o gesto maquinal daquele empregado que destacava uma ficha e a entregava.Será que aquele funcionário,alguma vez,já imaginou que alguém pudesse não querer café? Pedir, por pedir, mas não querer?Nem sequer desejar ver a xícara fumegante?
Com a ficha na mão,saiu pela rua.Outra mentira, não queria ficar na rua.Mas se entrasse no escritório,seria mentira maior.Odiava o escritório,o emprego,os colegas.De duas mentiras ,preferiu a menor, ainda que,ponderando,descobrisse que,ficar com a mentira menor era igualmente fuga,mentira,porque nesse dia tinha decidido mentir. E quando se decide uma coisa, o melhor é levá -la até o fim.
Andou.Pensando como a cidade era bonita com seus prédios batidos de sol e os vidros dando mil reflexos.Bonita com a gente que andava apressada para trabalhar e construir alguma coisa.Bonita na tranquilidade da vida, no sossego das casas,na calma que se estampava nos rostos das gentes.Bonita no que oferecia de futuro e de perspectivas.Bonita nos carros que andavam em fila,ruidosamente, um atrás do outro,sempre para frente, sempre para frente.Bonita na fumaça negra que escapava dos veículos e subia em espirais,milhares de fumaças reunidas, formando uma bela nuvem negra, como um negro véu que surgia sobre a terra, empanando o céu.
Andou sem querer andar.Viu, sem querer ver.Sentiu sem querer sentir,Cansou sem querer cansar.Tudo uma  grande mentira neste dia.Como mentira era a vida que ele vivia,cotidianamente,falsificada,pré fabricada,exaurida,imposta.Suada.Que repousante era viver este dia da mentira.Negar tudo.Reviver.
Andou até a hora de voltar para casa.Outra mentira, não queria voltar para casa,o lar, o aconchego, o refúgio, a fuga.A verdade de sua vida encerrada entre aquelas quatro paredes, a família, o amor,o carinho, o aconchego, o lar, o refúgio, a fuga, a realidade. Não voltar, e andar.Percorrendo as ruas, entrando nos prédios,conversando com as pessoas.No entanto, não tinha vontade de conversar.Sabia que precisava,mas não tinha vontade de falar.Falava pouco, sua língua andava entorpecida, sem prática.O medo é que um dia desacostumasse e perdesse a capacidade de se comunicar.Ficou parado numa esquina, esperando a noite passar. E quando o dia chegou, tinha acabado o período da mentira,podia enfrentar de novo a verdade.E disse bom dia ao porteiro,deu o endereço ao táxi,ligou para a mulher e o patrão.Disse no emprego que estava doente,E na verdade,estava.


                                Ignácio de Loyola Brandão